Editorial
Silêncio sem sentido
Cai como surpresa a decisão dos delegados de polícia do Rio Grande do Sul em silenciar-se diante da imprensa como uma maneira de pressionar o governo do Estado por pautas trabalhistas da categoria. A demanda é justa e válida. No entanto, esse meio utilizado não faz sentido. A Associação dos Delegados de Polícia do Rio Grande do Sul (Asdep) está em seu papel de demandar pelos seus. No entanto, mais do que a imprensa, a sociedade paga com a falta de informação - e mais do que isso, com a desinformação.
Em tempos de epidemia de fake news, o Diário Popular traz um bastidor: ontem houve um feminicídio em Pelotas. Mais um. O quinto do ano. É mais do que o dobro em relação ao anterior. No entanto, foram horas e horas para confirmar o caso, sem posição da Delegacia da Mulher. Ou seja, uma situação em que traz preocupação social - inclusive, como noticiou o próprio DP na última semana, com união de entidades para diagnosticar essa falha que vem havendo e gerando o aumento de mortes de mulheres - não houve uma posição oficial de quem mais precisa lidar com isso.
Amanhã pode haver outro caso daqueles em que um informação sobre morte, estupro, etc circula pelas redes sociais e não se confirma. Com os delegados calados, como faremos para checar? Casos assim já renderam linchamentos inclusive. Já vinha sendo difícil obter a informação oficial junto a órgãos de segurança, algo que já era visto com estranheza. Agora, a escuridão total chega sem a menor explicação.
Entende-se que a medida é uma forma de pressionar o governo do Estado pelas demandas. É justo o pedido por um plano de carreira. Percebe-se que há o entendimento de que a divulgação de dados de segurança possa soar como pauta positiva aos atuais gestores públicos enquanto, segundo a categoria, o governador Eduardo Leite (PSDB) não os recebe para negociar, enquanto usa os dados na publicidade governamental.
Faz sentido a reclamação mas, ao tentar punir o governo, punir a sociedade inteira, a pauta perde força. Alguém há de argumentar que é um "choro" da imprensa que ficará sem o que falar. Não é verdade. A página de Segurança, embora sempre a mais lida, se sustenta com outras informações, de outros órgãos de segurança pública e de outras entidades. Isso é preocupação de quem noticia com zelo, enquanto páginas de "informações" colocam a "informação" sem base alguma. Quem, nesse caso, perde, é a busca pela verdade e a fiscalização de um trabalho de entes públicos. Ou seja, perdem todos.
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